ENTREVISTA
COM BASÍLIO Dirceu
Barros
João Roberto
Basílio, 61, o jogador que entrou para uma das páginas mais importantes do
Centenário do Corinthians, graças ao gol iluminado que acabou com o jejum de
títulos de mais de 22 anos do alvinegro, concedeu a essa entrevista na sede da
Associação que preside, Craques de
Sempre, entidade ligada a Secretaria Municipal de Esportes, onde atuam
ex-atletas profissionais na direção de escolas de futebol para a população de
jovens carentes; e faz comentários esportivos no canal fechado BlueTV.
A
INVASÃO CORINTIANA
Dirceu Barros: Como foi para os
jogadores presenciarem a invasão maciça da Fiel no Maracanã?
O
primeiro a visualizar toda aquela multidão fui eu. Como eu estava no banco (Basílio havia entrado em campo no
segundo tempo, substituindo Givanildo) a gente tem o costume de deixar as malas
no vestiário e sair para ver se tem preliminar, e ver as condições do gramado,
etc. Ao ver aquilo chamei o pessoal para
mostrar como estavam as arquibancadas, divididas ao meio. Eu verifiquei que
estávamos até com uma porcentagem a mais, pois na parte do fosso, havia
torcedores do Corinthians, Flamengo, Vasco e do Botafogo. O presidente do
Fluminense, Francisco Horta liberou 70 mil ingressos para o Corinthians, e
tinha sido alertado pelo Rivellino que estava mexendo num vespeiro, mas não o
levou a sério. Os próprios torcedores se surpreenderam, acho que todos
decidiram ao mesmo tempo, ir ao Maracanã.
Esse episódio deve virar um filme. Jamais
vai ser se repetir.
D.B.:Na final contra o Inter, foi verdadeiro
o sufoco que time e torcida sofreram extra-campo?
A diretoria do Inter, principalmente, apavorou
todo mundo , mas foi um terror generalizado. Quando torcedores se identificavam na cidade,
tinham dificuldades para acomodação e alimentação. No estádio, a torcida ficou muito mal-acomodada; faltou
água, fazia muito calor, e fecharam os banheiros.
A dona Marlene levou tapa na cabeça, e chutaram o seu Vicente (o ex-presidente Vicente Matheus e sua esposa),
embora nada disso tenha diminuído o mérito do time do Internacional, que era
espetacular.
D.B.: Se o Corinthians tivesse empatado
aquela partida (houve um gol corintiano mal anulado quando o time perdia por
1x0), você acredita que a história poderia ter sido mudada, ou o Inter era
mesmo imbatível em casa?
Quem veste a camisa do Corinthians conhece o
aspecto emocional que move o time. Se tivéssemos empatado aquela partida, a
história poderia ter sido outra. Foi o que aconteceu na partida contra o
Fluminense.
1977
D.B.: Na primeira partida, o Corinthians venceu por 1x0; na segunda,
Morumbi abarrotado de gente, fim do primeiro tempo, Timão 1x0. Veio o segundo
tempo, e a virada: Ponte 2x1. O multidão de 140 mil pessoas saiu em silencio, como se estivesse saindo de um velório. Como
se sente o jogador num momento como esse?
Nós mal víamos a hora de chegar a
quinta-feira. Jogávamos até por um empate na prorrogação, mas queríamos a
vitória. Foi feita uma boa preparação psicológica, e chegávamos a brincar com a
ameaça que representavam os jogadores da Ponte Preta. A desconfiança ficou para
o torcedor, que já havia sofrido decepção nos anos anteriores, mas para nós,
jogadores, o sentimento era de
confiança.
D.B.:O sentimento frustração pela falta de
títulos naquela época foi desfeita pelo seu gol, mas parece se repetir agora em relação a Libertadores.
Será que teremos em breve
um
novo Basílio, para fazer um gol
salvador?
O mais
importante será uma sequencia de disputas da Libertadores. O que não pode é
jogar um ano, e depois ficar três sem jogar. Uma sequencia de disputas
fatalmente levará a conquista do título, e eu, como torcedor, espero muito por
isso.
“A atual diretoria sempre me procura, e me convida para todos os eventos que o clube realiza, e isso
é algo que honra muito a mim, e a minha
família. Anteriormente, até barrado na portaria eu era.”
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D.B.:Como foi a sua adaptação ao se
aposentar dos gramados?
Eu parei consciente. Quando sai do
Corinthians, metade do passe era meu, metade do clube. Ganhei o passe do
Corinthians, cheguei em minha casa com a boa nova, mas ao mesmo tempo me
deparei com o agravamento da saúde da minha mãe. Julguei que teria a vida toda
para trabalhar e ganhar dinheiro, mas o momento exigia o meu carinho e a
dedicação total à família.
A maioria dos jogadores não tem preparo
para parar de jogar, e muitas vezes sofrem de depressão, ou fazem escolhas
erradas, e não é raro ver ex-jogadores se perderem.
D.B.: Há algum arrependimento na sua
carreira?
Não. Eu joguei na época certa, no momento
certo. Os gramados eram ruins, as condições mais difíceis, os materiais
esportivos inferiores. Alguns perguntam se Pelé jogasse nos dias de hoje, faria
os mil gols que fez. Eu digo que se ele
jogasse hoje, não teria feito mil gols, mas quatro mil. É a minha geração, e só
tenho coisas boas para guardar.
D.B.: Qual jogador corintiano que você mais
admirou?
O
craque que vi jogar chama-se Roberto Rivellino, sem dúvida nenhuma. Ele
sempre quis que jogássemos juntos, mas eu acabei por substituí-lo no
Corinthians, veja como é a vida. Mas, também não seria justo deixar de
mencionar o Zé Maria e o Wladimir, regulares como relógios, nunca
decepcionavam. Dos mais recentes, Tevez foi um vencedor, e Ronaldo, que embora
não seja o mesmo que jogava na Europa, ainda consegue fazer a diferença. Surpreendeu,
e conquistou títulos no Corinthians.
D.B.: Fazer aquele gol que te colocaria na
história, era algo que passava pela sua cabeça?
Nem em sonho. Quando o Brandão
falou que eu faria o gol, eu respondi que o gol poderia ser até do goleiro
Tobias, o importante era a conquista do título. Pensávamos em passar para a
história como um grupo que quebrou o jejum de títulos. O desejo era o de ser
campeão pelo Corinthians; não caiu a minha ficha na hora, da importância
daquele gol. Até hoje crianças pedem
para tirar fotografias comigo, e eu lhes pergunto como eles conhecem, e eles
respondem que me conhecem pelas fotografias, pelos filmes, pelas histórias que
seus avós contam. Então, no dia do gol, nem tinha como eu imaginar a dimensão
que aquilo tomaria.
D.B.: Você se sente plenamente reconhecido
pelo seu feito?
Eu me sinto totalmente reconhecido, não só
pela Nação Corintiana, mas também pelos torcedores de outros times.
CORINTHIANS HOJE
D.B.: Como você vê o time atual?
O Corinthians está no caminho certo. Tenho
conversado com o presidente, e ele me disse que está de olho nas revelações dos
times brasileiros, e creio que esse é o caminho a seguir, e isso pode ser
notado nos jovens jogadores que têm se firmado no time atual.
D.B.: Como é
a sua relação com o Timão, hoje?
Maravilhosa, especialmente com a atual
diretoria. Ela sempre me procura, e me convida para todos os eventos que
realiza, e isso é algo que honra muito a
mim e a minha família. Anteriormente, até barrado na portaria eu era.